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Um coração puro

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A caminhada da Quaresma que é, antes de mais, um tempo de libertação, faz nascer em nós um desejo de mudança. As renúncias e penitências que nos impomos são ajudas para nos libertarmos. Pedimos a Deus um coração puro e temos de fazer por ter um coração puro. Um coração puro é o contrário de um coração manchado. E a Quaresma pode ser este tempo favorável de purificação. Com a ajuda de Deus, retirarmos do nosso coração toda a maldade que não nos deixa ser felizes nem fazer felizes os outros. Isto é uma espécie de morte: morrer para o mal para poder nascer o bem.  Se o grão de trigo lançado à terra não morrer… Esta frase de Jesus adquire hoje um duplo significado. Por um lado, a sua própria morte, que Jesus compara a um grão de trigo. Também Jesus será sepultado, não para ficar no túmulo, mas para nos dar o fruto da sua ressurreição: a vida eterna. Mas também nos quer dizer que na nossa vida há mortes que temos de fazer acontecer para que delas possa nascer vida: pessoas, relações e ambi

Pecador

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Diz mais sobre a condição humana do que sermos más pessoas. Mais do que ser apontado pelos outros, o pecador assume-se como tal diante da santidade de Deus. Foi o que exclamou Pedro, depois da pesca milagrosa, diante de Jesus: " afasta-te de mim que sou pecador " (Lucas 5, 8). Não se trata do prazer de humilhar mas sim de se reconhecer como finito, frágil, não perfeito. Santo Agostinho introduziu na Igreja o axioma que separa a pessoa da má acção: " odeie-se o pecado, ame-se o pecador ". No Oriente há uma oração, chamada de Jesus, ou do Coração, que mais não é que uma jaculatória, que se repete por mais de cem vezes e que diz assim: “ Senhor Jesus Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador ”. Os pecados são desfigurações da imagem e semelhança de Deus, da qual fomos criados. O pecado desfigura, envergonha-nos, afasta-nos de Deus. É assim desde Adão e Eva. Jesus, no entanto, não foi pecador. Como se lê na Carta aos Hebreus (4, 15): “ provado em tudo como nós, excep

Os pobres

Estão no coração de Deus; Jesus declarou-os bem-aventurados e São Lourenço, no século III, confirmou o que os primeiros cristãos sentiam: são a riqueza da Igreja. A tradição judaico/cristã sempre teve um profundo respeito pelo mais pobres. No Antigo testamento Deus protege-os e pede ao seu povo que os trate com dignidade. No novo testamento Jesus destina-lhes não só um lugar especial mas também acabam por ser os principais alvos da sua pregação: doentes, órgãos, viúvas… Jesus nunca deu dinheiro aos pobres. No entanto parece Judas Iscariotes distribuía dinheiro pelos mais pobres. Mas Jesus defendeu-os sempre e esteve sempre ao seu lado. A sua sensibilidade que conduzia à proximidade permitiu sempre que os pobres não se sentissem abandonados por Deus mesmo que abandonados pela sociedade. Nos últimos anos a “teologia dos pobres” deixou de ser uma teoria. Graças ao Papa Francisco os pobres deixaram de ser uma ideia ou um exemplo para passarem a ser um verdadeiro lugar teológico. Por humani

Um pai que ama o seu filho

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  Uma das maiores aflições que os pais devem ter é a de verem um filho sofrer ou mesmo perdê-lo. Não tenho dúvida que qualquer pai ou mãe, se pudesse, assumiria essa dor e daria o seu lugar para que o seu filho não sofresse.  Hoje escutámos na primeira leitura uma passagem muito complicada. O mesmo Deus que deu um filho a Abraão, pede agora a sua vida como sinal de fé. As explicações desta passagem são várias e a maior parte delas vão no sentido de ser uma prova de fé. Daqui não tenho dúvidas que os problemas da nossa vida são muitas vezes provações em que se pode questionar a fé, mas, mais importante, é que a fé ilumine as nossas provações e dificuldades. Esta leitura diz-nos isso: a nossa vida é semeada de alegrias e esperanças, mas também com as suas penas e sofrimentos, incompreensões e injustiças e contrariedades. Uma primeira pergunta poderia ser esta: com que atitude enfrento, vivo, os problemas da minha vida? Será que a fé nos faz chamar Deus desde o início ou só o chamamos por

Não nos deixeis cair na tentação...

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O evangelho das tentações é lido neste primeiro domingo quer por causa do número 40 quer por causa de Jesus ter ido para o deserto. É este o número muito simbólico, mas significativo dos dias do dilúvio, dos quarenta anos que o povo de Israel demorou a atravessar o deserto desde o Egipto à terra prometida, os quarenta dias das nossas quaresmas… e o deserto que é ao mesmo tempo o lugar da provação, o lugar do despojamento, mas também o lugar privilegiado para escutar a voz de Deus. No profeta Oseias há uma passagem que diz isto mesmo: vou conduzir o meu povo ao deserto para lhe falar ao coração . E assim como o número quarenta tem um simbolismo forte também o deserto pode ser uma metáfora da nossa vida, reconhecendo nesta passagem do Evangelho o que pode acontecer na nossa vida.  Jesus era tentado por Satanás . As tentações fazem parte da nossa existência. Desde as inofensivas tentações até às mais gravosas, que causam dano não só a nós, mas também aos outros, dos mais pequenos a nós, m

frei Matias, op (1947-2024)

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  Faleceu hoje o frei José Augusto Matias, assignado ao nosso convento de Fátima. Nasceu em Franco, Mirandela, em 1947. E pouco mais se pode dizer da vida dele, além das poucas assignações que teve mas, sobretudo, porque muito do que disse e fez foi tão discreto, que seria preciso agora encontrar as pessoas que se cruzaram com ele para nos dizerem como as tocou. Um frade simples, mas muito valioso nas suas ideias, na sua simplicidade e discrição. Tendo podido subir aos palcos do êxito e da notoriedade, preferiu sempre os pequenos grupos e comunidades onde aí era profundo e fecundo pregador. Apesar de nunca termos vivido na mesma comunidade, tive a honra e o prazer de me cruzar com ele em muitas ocasiões, quase todas de trabalho: comissões preparatórias de capítulos provinciais e ambos membros de conselhos económicos e provinciais onde, no ultimo, ele estava como secretário e eu como sócio do provincial. As suas intervenções eram sempre no sentido de ajudar (às vezes encontramos pessoas

Como lidamos com as lepras?

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A primeira leitura de hoje e o Evangelho fala-nos da doença mais antiga que se conhece: a lepra. E, como iremos ver, a lepra tem outros significados que ultrapassam a condição física. Mas comecemos por ela. O povo do Antigo Testamento e do tempo de Jesus acreditava que as doenças eram castigo de Deus. Se alguém ficava doente, como um leproso, é porque tinha praticado más acções. Se alguém que tivesse nascido com algum problema, ser cego, por exemplo, a culpa poderia ser também dos pais. No evangelho de São João, antes de Jesus curar o cego de nascença, os discípulos perguntam a Jesus de quem é a culpa: do cego ou dos pais. Já veremos a resposta. A lepra era a pior das doenças. Era degradante em si e também pelas regras sociais que impunham aos leprosos, como escutámos na primeira leitura. Aliás, já neste tempo se observavam as regras de uso de máscara, o distanciamento e a quarentena… eram quase mortos-vivos. Jesus veio desfazer esta ideia de que o doente é um castigado de Deus. A resp