Um simples santo


A Igreja lembra hoje, os dominicanos celebram-no com festa, um simples santo: São Martinho de Porres. Digo simples santo porque quem conhece a história da Ordem dos Pregadores lembra-se de grandes vultos como São Tomás de Aquino, Santo Alberto Magno, Santa Catarina de Sena, São Pio V, intelectuais, homens de pena na mão a discorrer sobre os mistérios de Deus. Ora, na Ordem dominicana, há santidade mesmo fora dos livros. Se os há com pena na mão também os há com a vassoura. Há santos intelectuais e há santos iletrados. Há uns que se tornaram santos pelo que escreveram e outros pelo que fizeram.

Quem é este São Martinho, entre os os espanhóis conhecido por Fray Escoba? Nasceu em Lima no ano de 1579. Filho de um espanhol e de uma mulata, aprendeu o ofício de ajudante de barbeiro-cirurgião e exercia este ofício quando pediu para entrar na Ordem de São Domingos. Foi admitido não para ser Padre mas Irmão Cooperador. O que se diz dele? "Dotado de admirável simplicidade, inocência e fé, e destinado aos ofícios mais humildes, foi exaltado por Deus com dons e carismas celestiais como a bilocação (presença simultânea em dois lugares), levitação e êxtase, sinal da sua grande e íntima relação com Deus". Amante do Santíssimo Sacramento, ficava horas na igreja em adoração; devoto do mistério da Paixão do Senhor, unia-se a ele pelos sacrifícios e mortificações a que se impunha. Enquanto frade, e embora desejando ser missionário no Japão para poder derramar o seu sangue pelo Senhor, tinha no convento os mais humildes (no século XVI eram mais humilhantes que humildes...) serviços como o da portaria, e aí exercia o ministério do acolhimento tratando com os pobres e doentes que batiam à porta para serem atendidos. O Papa João XXIII quando o canonizou em Maio de 1962 descreveu assim a sua acção apostólica: "Desculpava os defeitos dos outros e perdoava as mais graves ofensas, por estar persuadido de que era muito mais o que merecia pelos seus pecados. Procurava com todo o empenho trazer os pecadores ao bom caminho. Assistia carinhosamente os enfermos. Fornecia comida, roupas e medicamentos aos necessitados. Na medida das suas possibilidades, protegia, com todo o género de solicitude e ajuda, os camponeses, os negros e os mestiços, que nesse tempo exerciam os ofícios mais desprezíveis, de tal modo que mereceu ser apelidado «Martinho da caridade»".

Morreu em Lima, neste mesmo dia, há 370 anos (1639).

A propósito deste Santo é bem ajustada a oração de Jesus que lemos no Evangelho: "Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos".

Hoje peço pelos Irmãos Cooperadores da minha Comunidade. Temos dois. Um é porteiro e o outro é jardineiro. Continuam a exercer serviços "humildes" mas preciosos numa comunidade: a portaria que é o rosto do convento e os jardins, sempre gabados por quem nos visita. Que Deus os recompense por este trabalho de cooperação connosco e entre nós.

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