Dois Natais

Depois do grande dia, as coisas parecem estar mais calmas. Tentamos despachar o que sobra da festa: comida, corrida aos saldos, prendas guardadas, últimas mensagens de Boas Festas... grande perigo do Natal caber só numa noite. Partilho dois textos de Natal, um de um místico e outro de um poeta e, por isso, místico também:



"Já lá vão cerca de dois mil anos, entre aquela noite e os nossos dias e, também agora, se repete o milagre de Jesus.
Já passou o dia de Natal. Dia em que fui adorar Jesus Redentor... Dia em que, também, como então, fazia frio na Terra, e ainda que a minha lama não tenha a castidade de José nem o amor de Maria... ofereci ao Senhor a minha pobreza absoluta de tudo, a minha alma vazia. E se não lhe entoei hinos como os anjos, procurei cantar-lhe canções de pastores..., a canção do pobre, do que nada tem..., a canção do que só misérias e fraquezas pode oferecer a Deus...

(São Frei Maria Rafael, pensamento 945)


ÚLTIMO NATAL

Menino Jesus, que nasces,
Quando eu morro,
E trazes paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.

(Miguel Torga, Diário, 24 de Dezembro de 1990)

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