Memento quia cinis es


"Lembra-te que és pó e que em pó te hás-de tornar". Para quê lembrar o que se quer esquecer? Porquê este triste pensamento depois de dias de folia em que as máscaras reinaram como se o nosso mundo fosse este e a nossa alegria completa estivesse neste mundo?
Lembra-te que és pó. Foi o que me disseram ontem, quando sobre a minha cabeça impuseram as cinzas, que lembram a nossa finitude, a passagem que é esta vida, de que este mundo há-de passar.
Mas lembram também as cinzas a nossa origem. Fomos criados do pó da terra, por Deus, o oleiro das nossas vidas. E que criação! À sua imagem e semelhança. Não podia ser mais perfeito. Então volta a fazer sentido a frase quaresmal: lembra-te que és pó. Lembra-te que Deus te quer moldar, que Deus quer que voltes a ser sua imagem e semelhança, que te quer restaurar, que te quer dar a dignidade que perdes quando fazes o mal e te esqueces da tua origem divina. Lembra-te que és pó.

"Arrepende-te e acredita no Evangelho". Esta é a frase alternativa das Cinzas; mais suave, mais evasiva. É necessário um arrependimento, é necessário acreditar numa Palavra. Foi o que disse ao impor as cinzas sobre as cabeças da assembleia reunida. Cabelos compridos, curtos, pintados, brancos, pretos ou castanhos, louros; até aquele menino de ano e meio, sem cabelo, porque um tratamento cruel mas necessário lho tirou, até a esse foi dito "Arrepende-te e acredita no Evangelho". Cabeças inclinadas diante das cinzas. Idades tão diferentes, histórias de vida tão desiguais, a mesma fila do Jordão pedindo a Deus perdão, misericórdia e força para mudar.

E foi assim, enquanto o cantor repetia o grito de Deus ao seu povo "Regressai a mim de todo o coração; eu sou um Deus de ternura", que cada um dos que ali estava ouvia o convite de Jesus, o mesmo de sempre, o mesmo de todos os anos neste dia: Arrepende-te e acredita no Evangelho.

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