O mais curto dos meses


"Janeiro geoso e Fevereiro chuvoso fazem o ano formoso". Fevereiro ainda é tempo de chuvas. Mal vai se já há calor. O povo tem muitos provérbios para este mês e, em quase todos, louva a água que deve chover neste curto segundo mês do ano, quando não, "Fevereiro quente traz o diabo no ventre"... Mas apesar de já irmos em dia seis cá vai uma apresentação deste mês - um devaneio - que, apesar de mais pequeno - "trocou dois dias por uma tigela de papas" - é muito agradável.
Logo no dia dois tivemos a Candelária. Os quarenta dias depois do Natal em que lembrámos a primeira ida do Menino Jesus ao Templo. A três, a festa de São Brás, padroeiro das gargantas a das suas maleitas. Dia cinco dia de Santa Águeda; amanhã, dia sete, dia da festa das chagas de Cristo, festa religiosa exclusiva do nosso país. "In hoc signo vinces" leu Afonso Henriques, no céu, quando andava a expulsar mouros (expressão suave para não dizer matar que, na altura, não era pecado) pelos campos de Ourique. Leu a frase e viu as cinco quinas, que se vão perpetuando na lusa bandeira, como bem escreveu Camões n'Os Lusíadas: Vós, terno ramo florescente / De uma árvore, de Cristo mais amada / Que nenhuma nascida no Ocidente, / Cesárea ou Cristianíssima chamada, / (Vede-o no vosso escudo, que presente / Vos amostra a vitória já passada, / Na qual vos deu por armas e deixou / As que para si na Cruz tomou). Passamos a dia dez, dia de Santa Escolástica, irmã de São Bento, seguindo-se o dia onze, Mundial do Doente, celebrado com a festa de Nossa Senhora de Lourdes, para depois entramos depois no Carnaval. E vejam como são as coisas: o pagão nasce do religioso que é o mesmo que dizer que o Carnaval nasceu da Quarta-feira de Cinzas. Com a Quaresma começavam os jejuns e as abstinências e, então, nos dias anteriores dizia-se "adeus à carne", que é o que a palavra Carnaval significa. Festas e entrudos, mascarados ou com a máscara de todos os dias, celebramos os dias gordos com os cozidos, fazemos na noite de terça-feira o enterro do senhor Entrudo para, mais calmos, na quarta-feira, dia dezassete, recebermos as cinzas e lembrarmo-nos que somos pó e que em pó nos havemos de tornar. E a partir daqui os santos são celebrados com moderação. No dia dezoito, sem festa especial, comemoramos o primeiro Santo Português: São Teotónio. Do tempo da fundação da Nacionalidade, privava com o Conquistador, foi o primeiro prior do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Se a dezoito celebramos o primeiro santo português, no dia vinte lembramos os pequenos pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta, ainda beatos, os últimos que o país deu. Já na última semana vamos festejar a Cadeira de São Pedro. Não a cadeira onde se sentou, mas o que significa para os católicos. Cadeira vem de Cátedra; e Catedral, como é bom de ver, é a igreja onde está a cadeira do Bispo. E assim, num instante, com as alegrias e as tristezas que trazemos de Janeiro mais as que se juntam neste mês lá iremos vivendo os dias porque, como diz Fevereiro, "virá Março que fará o que eu não faço".

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