As mulheres da nossa vida



Hoje é dia da mulher. Não é preciso ser-se muito egoísta para nos lembrarmos daquela que é a grande mulher da nossa vida: a nossa mãe. A coragem em nos ter dado à luz, os trabalhos e canseiras na educação para que não nos faltasse nada, o amor que transformavam as obrigações em doações, as nossas mães são umas heroínas embora não entrem nas listas das mulheres mais famosas ou influentes da sociedade. Falo a partir da mulher da minha vida, a minha mãe. Sei e acredito que para algumas pessoas a referência às mães não é a melhor, a começar por talvez terem sido abandonadas ou por algum corte de relações mais tarde, ou ainda por terem chegado à conclusão que a mãe, afinal, não foi quem lhe deu o pão mas quem lhe deu a educação.
Na minha vida há duas mulheres para um lugar: a minha mãe e a minha avó. Não é necessário haver briga nem conflito. Cabem as duas. As duas me deram o pão e a educação. As duas me pegaram ao colo, as duas foram confidentes (aqui tenho que reconhecer que a minha avó foi mais), as duas sempre apoiaram os meus projectos de vida. Mas a minha avó sobressai no que toca a vocação e religiosidade. Se hoje sou padre a ela o devo, não tenho dúvida. Se não deixei de praticar na adolescência foi pelo seu exemplo e acompanhamento... A minha avó morreu há já quase oito anos e, curiosamente, a minha mãe acabou por ocupar o lugar dela. É ela agora que faz o papel perdido da minha avó. E, por isso, para mim, é a grande mulher da minha vida.
Mas neste dia, porque só reconhecer duas mulheres na sua vida é mau sinal, tenho que aqui lembrar todas as mulheres que são para mim exemplo de vida, delicadas e dedicadas, com mais ou menos protagonismo, que interessa isso, como se pudesse algum dia haver concorrência ou concurso sobre quem é a mulher mais mulher... Elas não são importantes por terem sido pintoras de renome ou escultoras, mulheres da política ou da religião. Elas são importantes porque são mulheres.
Em homenagem a elas, sobretudo às da minha vida, aqui deixo excertos do poema "elas" de Maria Velho da Costa, que me foi dado a conhecer por uma amiga, também ela excelente mulher que agora se preocupa em servir Deus nos irmãos:
"Elas são quatro milhões, o dia nasce,
elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café.
Elas correm esbaforidas para não perder o comboio, o barco.
Elas pousam o cesto e abrem a porta com a mão vermelha.
Elas lavam. Elas carregam ao colo.
Elas batem à máquina palavras que não entendem.
Elas arquivam por ordem alfabética duas mil fichas e vinte e cinco ofícios.
Elas olham para o espelho muito tempo.
Elas choram.
Elas fizeram greves de braços caídos. Elas brigaram em casa para ir ao sindicato e à junta.
Elas souberam dizer salário igual e creches e cantinas.
Elas foram pedir para ali uma estrada de alcatrão e canos de água.
Elas disseram à mãe e à sogra que isso era dantes.
Elas ouviram falar de uma grande mudança que ia entrar pelas casas.
Elas choraram no cais agarradas aos filhos que vinham da guerra.
Elas choraram de ver o pai a guerrear com o filho.
Elas tiveram medo e foram e não foram.
Elas levantaram o braço nas grandes assembleias.
Elas diziam tu às pessoas com estudos e aos outros homens.
Elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café esfriado.
São elas que acordam pela manhã as bestas, os homens e as crianças adormecidas”.

(Esta pintura é de Picasso)





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