Regra de Vida


Quem funda uma Ordem Religiosa ou uma Congregação tem, forçosamente, que escrever ou escolher uma Regra de Vida. A primeira grande Regra que se conhece é de Pacómio, eremita do século IV. No Ocidente, a grande Regra monástica é a de São Bento, que data do século VI e que assenta nos dois grandes pilares da vida 'beneditina': Ora et Labora (Reza e trabalha). Mais tarde, no século XIII, Francisco de Assis, quando o Papa lhe exige uma regra para poder fundar uma Ordem religiosa, ele, inocente ou cândido, apresenta ao Papa o livro dos Evangelhos dizendo que o Evangelho é que há-de ser a sua Regra. O Papa diz que não pode ser e que terá que escrever uma Regra. Francisco redige-a, apresenta-a ao Papa que a acha muito severa mas que acaba por promulgar. Em relação a São Domingos a história é diferente. Há um Concilio pelo meio que proíbe mais regras, obrigando os fundadores a optar por uma já existente. São Domingos, como já vivia a Regra de Santo Agostinho adopta-a para os seus frades. Regra essa que ainda hoje consta no nosso Livro de Constituições.
Tudo isto vem a propósito da Regra que Charles de Foucauld escreveu e que estou a terminar de ler. A mesma inocência ou candura de São Francisco. Para cada tema da vida dos Irmãozinhos de Jesus ele começa por agrupar citações do Evangelho. Por exemplo, em relação à esperança, Charles de Foucauld coloca o texto das Bem-aventuranças...
Mas o que deixa a pensar é o porquê destas regras. Ok, é preciso haver uma orientação de vida, eu próprio reconheço. Mas, às vezes, parece que as Regras, Constituições ou Directórios, são para travar excessos ou a nossa maldade. Não tinha razão São Francisco, quando diz que o Evangelho é a melhor Regra de Vida? Porquê mais e mais? Não se resume a nossa vida cristã ao amor a Deus e ao próximo?
Eis o que escreve Carlos de Foucalud no artigo 34: "Deveres especiais dos Irmãos e irmãs entre eles: Se os irmãos e irmãs devem ver Jesus em todo o ser humano «tudo o que fizerdes a um dos mais pequeninos, a mim o fazeis», se eles ver Jesus nos seus inimigos, nos mais pecadores, nos infiéis, como não devem eles vê-lo naqueles que, como eles, o amam de todo o coração, o imitam e o servem pelas mesmas promessas que eles, Lhe obedecem como eles com todas as suas forças, o recebem como eles na santa Eucaristia, e O deixam viver e agir na sua alma pela graça!" De uma grande beleza, sem dúvida, de uma grande clarividência, mas também muito óbvio. O que Carlos de Foucauld faz no seu «Directório» é glosar, de uma forma admirável, o Evangelho. Que é óbvio mas também necessário.
Se o leitor julga que quem opta pela vida Religiosa cumpre melhor que ninguém o Evangelho desengane-se. Se assim fosse os fundadores não teriam necessidade de escrever regras nem de citar o Evangelho que, afinal, é a única e verdadeira Regra para quem quer seguir a Cristo de coração sincero.

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