Triste saudade


Dia triste o de hoje para a minha família. Aniversário da morte do meu pai. Há seis anos. De repente, eu a terminar a Missa desse dia, num segundo, vem a morte repentina.
Escrevi, na altura, um texto, porque há coisas que não se conseguem falar com quer que seja, que foi o meu desabafo diante do corpo inanimado de quem me gerou.
Hoje, passados seis anos, dou-o a conhecer. Nunca ninguém o leu, e hesitei em colocá-lo hoje aqui. Mas o tempo é medicamento; e se não nos faz esquecer, abranda a dor que sofremos.
Aqui fica, em homenagem ao meu pai, os meus sentimentos talvez demasiado dramáticos, de há seis anos atrás, numa noite escura, enquanto se chorava a dor de uma partida inesperada:
Morreu o meu pai. Se bem que sabemos que temos a nossa hora a do meu pai foi, talvez, adiantada. Estes dias quentes, em que recordações se misturam com a triste certeza da separação, faz-me sentir como um sino que tange e que anuncia o fim da vida terrena.
Como é efémera a nossa vida. Meus Deus, tão bondoso e surpreendente que nos pões à prova com tudo isto. O Senhor deu, o Senhor tirou. Bendito seja o nome do Senhor.
Misturam-se sentimentos de tristeza com a alegria de uma vida simples, mas cheia como foi a do meu pai. Um coração jubilante, vivo, que o atraiçoou e o levou ao termo desta vida.
Era o meu pai… Aquele que me gerou, que me viu nascer, crescer, e que agora vejo morrer. Era o meu pai. Ficam outros corações tristes a bater por ele, compasso a compasso, num ritmo mais ou menos invariável, que tenta superar a trágica e inevitável separação.
Corações que amaram, corações que sofrem; que espada de dor, ó meu Deus.
Ajuda-nos, conforta-nos no teu coração misericordioso, no teu regaço de Pai, no teu regaço carregado de doçura e de paz.
Obrigado pai por tudo. Obrigado por me ter acompanhado sempre, ao meu passo, rindo comigo, chorando comigo, mas sempre ao meu lado.
Coração traidor que levaste aquele que tanto gostávamos. Que a tua dor seja a nossa dor, que o teu pulsar seja agora um pulsar calmo, feliz, próprio de quem se encontra junto de Deus.
Ver um corpo inanimado, ouvir uma voz que grita a ausência, lágrimas que choram a perda.
Meu bom Deus, acolhe o meu pai. Acolhe-o na tua luz, na tua paz. E ajuda-nos, conforta-nos hoje e sempre, que a perda de um pai é uma ferida que custa a sarar.
Meu bom Deus, ajuda a minha mãe. Tantos anos juntos, tantas coisas vividas que agora se desvanecem. Ó tristeza vazia. Ò tristeza mortal que abafas todo o grito revoltante de quem sente a perda. Chorem os meus olhos, grite a minha garganta, num grito surdo porque o que sinto não tem voz.
Ver um pai morto… falar para quem não responde, olhar para um rosto desfigurado, para um olhar vazio, olhares não correspondidos.
Morte cruel, não venceste, porque a Vida é mais forte, mais poderosa. Não venceste porque foste vencida, porque o nosso Redentor vive e o Autor da vida trás consigo os resgatados. Um ramo que demanda o mesmo céu, uma raiz que procura água, uma criatura que encontrou o criador.
Recebe-o Senhor, aceita o bem que praticou, aceita o que sofreu e dá-lhe agora o alívio das suas dores. Bom pastor, que conduzes todas as ovelhas para as pastagens verdejantes e que levas as mais débeis aos ombros, aceita a vida do meu pai, perdoa-lhe as infidelidades e dá-lhe o descanso merecido.
Pai, não te esquecemos. Ficarás no nosso coração, onde estão todos aqueles de quem gostamos. Agora só te resta ficares com Deus, à nossa espera. Que descanses enfim, porque foi grande a tua tribulação.
Maria, acolhe-o, tu que és mãe de misericórdia.

(Esta fotografia, que já apareceu neste blogue, é das mais bonitas que tenho. Quase que diria que foi tirada no dia mais feliz da minha vida. Não sei o dia em que foi nem porque motivo. Estava feliz e o meu pai também.)

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