Nem tudo são férias



Pouco a pouco vou entrando no dia a dia que marca o início do novo ano. Algumas pessoas acham que estar em Roma é sinal de férias. Digo que estive em trabalho e riem-se como quem diz: está-se mesmo a ver trabalhar em Roma. Mas é mesmo assim. Não foi um árduo trabalho, não estive a construir nenhuma casa nem coisa do género. Mas foi trabalho. Os debates, horários apertados, as cento e setenta e quatro pessoas, tudo ajuda ao desgaste apesar do bom que é conhecer outros mundos e outras pessoas.
Ontem retomei as idas ao hospital. Os mesmos dramas em pessoas diferentes. Hoje um casamento de uma enfermeira do hospital (de repente, ao olhar para a agenda reparo na quantidade de casamentos e baptizados até ao fim do ano!). E, como uma abelha, começo a recolher as ideias para as homilias de amanhã. Dois meses sem presidir a Missas ajudaram ao menos nisso. Confesso que é o que mais me custa e mais me cansa: preparar uma homilia. Não digo isto como queixa mas pela responsabilidade que é anunciar e tentar traduzir para hoje a mensagem do Evangelho. Não resisto escrever aqui uma citação que Timothy Radcliffe faz no seu livro, Porquê ir à Igreja? a propósito da homilia: "Não existe talvez maior penúria infligida actualmente à humanidade nos países civilizados e livres, que a necessidade de ouvir sermões. Ninguém, excepto um padre pregando, tem dentro destes âmbitos, o poder de obrigar a audiência a sentar-se em silêncio e sofrer o tormento. Ninguém, excepto um clérigo pregador, se pode entreter em lugares comuns, coisas banais e não banais e, no entanto, receber, como privilégio indiscutível, o mesmo comportamento respeitoso como se palavras de eloquência apaixonada ou lógica persuasiva jorrassem dos seus lábios... Ele é o frete do século, o velho de quem nós, Sinbads, não conseguimos livrar-nos, o pesadelo que perturba o nosso remanso dominical, o pesadelo que sobrecarrega a nossa religião e faz com que o serviço divino seja pouco agradável".Talvez seja um pouco exagerado. Acho-o em relação à forma mas não em relação ao conteúdo. Nós, dominicanos, à semelhança de São Domingos, pregador da graça, tínhamos uma oração em que pedíamos a Deus que nos concedesse a graça da pregação para alcançarmos a pregação da graça. Às vezes só saem desgraças!
Tudo isto para dizer que o retomar as actividades suspensas inclui esta obrigação de procurar partilhar com os outros uma palavra agradável, simples, mas que vá mudando as nossas vidas e as torne mais conformes ao Evangelho.
(Fra Angelico, São Mateus, séc. XV)

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