A propósito de uma conferência


Depois de uns dias a organizar ideias, comecei hoje a escrever uma conferência que farei quinta-feira, em Fátima, no âmbito das Jornadas da Pastoral da Saúde. Irei falar, numa mesa redonda, sobre abordagens práticas práticas para uma espiritualidade saudável, no ponto de vista de um capelão.
Vê-se muita coisa nos hospitais. E nem sempre a pastoral dos doentes é feita da melhor maneira. E eu, confesso, não tenho muita experiência. De modo que me ajudou a parar e pensar sobre o que faço e como posso melhorar.
Uma das abordagens é a dimensão sacramental. Digo que num hospital se podem celebrar todos os sacramentos. E pensei: todos não. A Ordenação não pode ser. Mas lembrei-me de ter ouvido a história de um padre que foi ordenado num hospital e que morreu depois de ter celebrado a sua primeira missa. Procurei e encontrei a história que aqui resumo.
Trata-se de um alemão, Karls Leisner, dirigente de um movimento juvenil católico que, tendo optado pelo sacerdócio foi ordenado diácono em 1939. Alemanha, nos anos 40 já estamos a ver o resultado: foi preso pelas SS e levado para o campo de concentração de Dachau onde esteve quatro anos, feito prisioneiro, a trabalhar duramente. Entretanto fica doente, tuberculoso, e em casos destes eram mortos. Pensou que seria o que lhe iria acontecer. Entretanto levaram-no pra uma enfermaria enquanto esperava a sua vez de ir para a câmara de gás. Foi aí que comentou com um dos que estava ao pé dele que era diácono e que a sua única tristeza era que morria sem ter sino ordenado padre nem ter celebrado, ao menos, uma missa. O facto é que começa a correr a notícia sussurrada de que um dos que está a caminho da câmara de gás é diácono e que a sua grande tristeza é não poder ser padre. E, para Deus não há coincidências nem acasos, a notícia chega a um bispo que também lá está deportado. Fez o que pôde e o que não pôde para alcançar este rapaz. E conseguiu. Ordenou-o padre, clandestinamente, a 17 de Dezembro de 1944. Leisner ficou muito contente. Mas ao mesmo tempo triste porque, doente e naquele lugar não iria conseguir celebrar ao menos uma missa.
No dia em que estava destinado a ir para a câmara de gás, ao vê-lo já tão doente, quase moribundo, decidiram abrir as portas do campo de concentração e de o deixarem por lá abandonado. E, mais uma vez, aqui entra o acaso de Deus: umas pessoas passam por lá, vêem-no, recolhem-no e levam-no para o hospital. Lá, conta-lhes a história da sua vida e diz-lhes que gostaria de celebrar uma missa, a sua primeira missa! E, num quarto do hospital, Karls Leisner celebra a sua missa, a única missa, nove dias depois, vindo a morrer poucos minutos depois de a celebrar.
Parece uma história de encantar, ou feita de acasos, mas não. Foi mesmo verdade. Anos mais tarde, em 1996, João Paulo II beatifica-o, quando visitou a Alemanha.

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