MMXI


A ti, Ano Velho, que te preparas para morrer, não quero que partas sem te agradecer a companhia. Mais do que qualquer outra pessoa, foste tu que me acompanhaste ao longo destes dias e destas horas. Para muitos és só mais um, um passado. Para uns foste ingrato, cruel, mau; para outros foste generoso, calmo, óptimo até.
A ti, Ano Velho, aí deitado nessa cama, quero agradecer os momentos bons que me deste: as pessoas que conheci e que permaneceram fiéis na amizade, as que conheci e que a morte entretanto levou, as pessoas que se cruzaram meus caminhos ou que eu cruzei nos caminhos delas; quero agradecer-te, o pão, o trabalho, o amor recebido e dado, a fraternidade, as alegrias, as viagens, os encontros, o que aprendi nos livros e no grande livro da vida… tudo o que ajudou a ser melhor.
Tu, Ano Velho, certamente terás queixas a meu respeito: que não fui tão tolerante como esperavas, que não soube aproveitar os dias que me deste, que fui egoísta, que nalgumas coisas fui injusto, noutras desvalorizei-te, e noutras ainda sobrecarreguei-te. Mas para isso servem os Amigos: para dizerem a verdade e não se chatearem com elas.
De ti, Ano Velho, me despeço com saudade. O teu ano de 2010 marcou a minha vida e tu nunca saberás quanto porque vais morrer.
E a ti, Ano Novo, que acabas de nascer, que soltas o primeiro grito, a ti que me vais acompanhar neste novo ano, quero ser teu amigo. Sucedes um bom amigo que agora me deixa. Bom e velho amigo. A ti quero pedir-te calma e paciência para comigo, que não corras, que andes normalmente, que continues o bom trabalho do teu antecessor. E que eu saiba valorizar-te, perceber os teus porquês, o porquê disto neste dia e aquilo naquele.
Mas… a quem escrevo eu? Os anos não são pessoas nem são tempo. Não têm sentido nem dão sentido. A quem escreverei senão a Deus para lhe agradecer o que agradeci ao Ano Velho e pedir-lhe o que pedi ao Ano Novo? É a Ti, Deus a quem eu peço que me dês um tempo de perdoar e de pedir perdão, um tempo de amar e deixar ser amado, um tempo de agradecer e de receber as tuas graças. É a Ti, meu Deus, que dás sentido ao tempo e ao tempo da minha vida a quem tudo isto peço. E força para os momentos maus, coragem para os dias difíceis, luz para os dias escuros e paz para todos os dias.
Que eu te perceba por detrás dos dias marcados nos calendários, por detrás dos ponteiros que ditam as horas e por detrás dos salmos e das orações que rezo.
É a ti, meu Deus, Senhor dos dez mil anos do mundo, dos dois mil e onze desta História de dos trinta e cinco da minha vida, que peço mais um ano para poder ser melhor.

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