Desbatizar


Este meu post vem na sequência da notícia que o Expresso trouxe neste sábado sobre o tema do "desbatizamento". Uma triste notícia não tanto pelo tema - é bom que se saiba que há pessoas que são batizadas e que não se identificam com a religião na qual foram batizadas - mas pela superficialidade e até alguma falta de respeito para com quem é batizado. Mas a isso já estou (os cristãos já estamos) habituado. Por isso este meu post é um comentário a estas duas páginas sobre um tema que acaba por não ser tema porque, como iremos ver, ninguém se pode desbatizar, como também ninguém pode apagar o nome da certidão de nascimento ou o nome da escola onde se andou. Mas isso será mais adiante. Antes de mais, dizer que ninguém se pode desbatizar e que o que se deveria dizer é que se pode fazer uma declaração formal de que se abandona a Igreja Católica (equivalente ao termo apóstata, repúdio total da fé cristã, cân. 751, que para os que se crêem "desbatizados" é título de glória). Para os que quiserem saber todos os passos para fazer este acto formal, podem consultar no site do Vaticano, uma carta legislativa de 2006, com todos os pormenores para abandonar a Igreja Católica. Mas este acto formal, que se deve averbar no assento de batismo (onde estão averbadas todas as coisas importantes da fé cristã), não tem efeitos sobre o passado. Por isso não se desbatiza. O que se diz é que o senhor fulano de tal, no dia tal, fez um acto formal de abandono da Igreja Católica. O passado continua e continuará. Porque o batismo não é celebrado pelas assinaturas mas sim pelo rito que se fez e que não se pode apagar por muito que se quisesse porque, como diz o mesmo Código de Direito Canónico e a tal carta que referi acima, o batismo confere carácter, ou seja, há uma ligação ontológica e não meramente exterior, ligação essa que nenhuma apostasia pode apagar. Mas pode-se batizar alguém contrariado? Não. Mas os bebés, que eu saiba, quando são batizados, não têm modo de se pronunciar. E, como em tantas outras coisas da vida civil: matricular na escola, dar de comer etc. etc., os pais fazem sem o consentimento dos filhos porque ainda não têm o uso da razão e porque acham que será o melhor para os seus filhos (já algum pai deixou de alimentar o filho porque ele nunca disse que queria comer?). Por isso, já que estão tão revoltados, em vez de andarem com actos formais de abandono, processem os pais pelo mal que lhes fizeram. Isso sim. Ou foi a Igreja que os obrigou a batizar? Finalmente um apontamento sobre os batizados civis. Acho ridículo. Por um lado porque não é batismo (a palava batismo significa imersão ou aspersão de água, o que não acontece nestas celebrações) e depois, os pais comprometerem-se por escrito a defender os direitos dos filhos? Ainda me hão-de explicar para que servem os pais, mas já não digo nada. Enfim, achei que devia fazer este esclarecimento. E ainda dizer que estarei para sempre agradecido aos meus pais, avós e padrinhos, por me terem batizado e educado nos valores cristãos. Não pedi mas eles, ao levarem-me à Igreja, acharam que era o melhor para mim mas, sobretudo, quiseram transmitir-me a fé que tinham. Pela minha parte, durante a minha vida, tive os meus momentos de dizer que sim, como podia ter dito que não, o que não coloca em questão as intenções de quem quis sempre o melhor para mim. Duas considerações finais: a primeira para os que saíram formalmente da Igreja: podem sempre voltar; a Igreja, ao contrário do que poderiam pensar, não lhes fecha a porta. E à jornalista do Expresso: se quiser dedique duas páginas aos que se orgulham de ser batizados. Certamente encontrará testemunhos. Muitos e válidos.

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