São Boaventura e as Ordens Mendicantes

A Igreja celebra hoje a festa de São Boaventura. São Boaventura está para os franciscanos como São Tomás de Aquino está para os dominicanos. Dois grandes homens, da época medieval, com percursos muito semelhantes mas com abordagens e pontos de partida diferentes. Os dois pertencem às chamadas "Ordens Mendicantes". Na realidade, foi São Francisco e, poucos anos depois, São Domingos, quem inauguram este novo modo de estar e de viver na Igreja. Não se tratava de oposição ao único estilo de vida religiosa que até então existia que era o monacal em que São Bento e a sua Regra são o máximo expoente deste modo de vida religiosa. Mas, no princípio, a coisa não foi fácil. Não tanto por causa dos monges mas mais por causa dos bispos e dos padres seculares (diocesanos). Porque a degradação era muita, porque a vida dos bispos e dos padres era um contracenso da vivência do Evangelho (acumulação de bens, riqueza...), porque não gastavam muito tempo no estudo da filosofia e na teologia. São todas estas coisas que levam a que alguns cristãos entrem num outro extremo - as heresias - e é daqui que nasce a ponte das "Ordens Mendicantes": São Francisco primeiro, e depois São Domingos, percebe que o combate da heresia não se consegue à lei da espada mas segundo a lei do Evangelho que se resume na palavra pobreza. Abro aqui um parêntesis para dizer que São Domingos, para além da pobreza, tem também a intuição do estudo porque, pela formação dos frades, podem esclarecer, pela pregação, os erros das heresias.
Mas rapidamente estas ordens religiosas foram contestadas. E é aqui que quer São Boaventura quer São Tomás sentem a necessidade de defender as Ordens a que pertencem. São Boaventura irá escrever um pequeno opúsculo sobre o valor das Ordens Mendicantes, falando das quatro grandes colunas deste novo modo de vida religiosa: humildade, castidade, pobreza e obediência, e São Tomás, na sua monumental Suma teológica, quando fala dos carismas ao serviço da revelação.
Estes dois homens foram bons amigos. E a amizade foi duradoira porque nela não entrou nem o ciúme nem a inveja nem as dissensões.
Apenas um pormenor sobre São Boaventura. O papa Gregório X decidiu nomear cardeal a São Boaventura. E mandou uma delegação ao seu encontro para lhe entregarem o barrete cardinalício. A delegação, quando chegou, encontrou São Boaventura na cozinha a lavar pratos. Quando lhe disseram ao que vinham respondeu-lhes: deixem por aí o barrete. Daqui a pouco, quando tiver as mãos livres vou buscá-lo. Hoje, para nós, este pormenor vale o que vale. Mas é bem certa a citação de uma das suas obras que diz que "a inteligência sem humildade não vale nada".

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