Datas que não se esquecem

Sou um bocado esquecido em relação a datas; às dos outros e às minhas. Tenho uma agenda onde coloco as datas dos aniversários das pessoas amigas e muitas vezes esqueço-me de lá ir ver a quem toca festejar mais um ano; No diretório litúrgico (livrinho onde vêm as determinações da liturgia para cada dia) tenho os aniversários dos frades e as datas importantes do Convento e da Província; na minha cabeça muito poucas datas e às vezes confusas.
Mas o dia de hoje é um dos que me ficou gravado. Talvez por estar associado a uma outra comemoração. Comecemos pela mais importante: hoje é o dia de aniversário da Dedicação da Sé de Lisboa. Temos que ir lá muito atrás na história lusitana, a 1150, três anos depois da conquista da cidade aos mouros, em que D. Afonso Henriques mandou destruir a mesquita e construir sobre ela uma igreja catedral para o seu primeiro bispo D. Gilberto de Hastings. Já agora, em atalho de foice, Catedral e Sé são dois sinónimos: Catedral, lugar da cátedra (cadeira) e Sé, lugar da Sede (cadeira). Portanto, a Sé, é o lugar onde está a cadeira do Bispo. Tudo isto nos levaria a falar na dimensão pastoral do bispo, que fala da cátedra para o povo que lhe está confiado, como o fará hoje, no dia em que terminam as celebrações das suas bodas de ouro de ordenação de padre. A Sé é, numa diocese, a grande referência. Além de ser o lugar habitual onde o bispo celebra as principais festas do ano litúrgico, a Catedral acaba por ser o edifício onde a Igreja de Lisboa se reúne à volta do seu pastor.
A segunda não tem história, ou então, tem uma história pequena: há 13 anos, em Sevilha, tomava hábito nesta Ordem dos Pregadores.
São estas memórias que alimentam o nosso caminho e a nossa vida.
Cruzei-me há dias com uma citação de Vergílio Ferreira, sobre a memória, que aqui deixo neste dia de boas memórias:
"Não digas o nome porque o não tem. Não procures a razão porque a não há. São momentos inexplicáveis de uma certa beatitude ou de uma certa melancolia ou afundamento, que é mais forte. São momentos que nos aparecem e em que nos sentimos em paz desbordante, um bem-estar da alma em que há um sorriso a querer sorrir por dentro e a imaginarmos por fora, mas ninguém o vê. Não é alegria, que faz muito barulho. Não é entusiasmo excitado, que ainda mais. É um abandono feliz de nós, uma serenidade que nos aproxima da verdade simples de o mundo existir e em que mesmo a morte nos não pode perturbar. Isso nos acontece em certas horas do dia que reflexamente nos evoca outros dias e horas de um tempo muito antigo em que fomos felizes à memória que os alcança."
(Sé de Lisboa, gravura do séc. XVI)

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