Vidas paralelas III

Seguem as vidas paralelas, deste mosteiro de monjas de clausura, onde estou hospedado durante estes dias. Vidas paralelas por causa da linha de separação estabelecida, e que é mais que uma ficção: onde não é porta é grade e onde não é grade é parede. Outro espaço dividido é o da capela do mosteiro. Aqui é uma grade que separa o coro das irmãs do altar e dos outros fiéis (as celebrações são sempre abertas embora, com a distância e os horários a participação se resuma à Missa) e, na sacristia, uma porta, que ao mesmo tempo faz de confessionário (a porta tem uns buracos a meio) e que divide a sacristia das irmãs, onde estão guardadas as alfaias, e a sacristia do padre, onde ele se paramenta para as celebrações. Comecemos pela capela. É bom que se diga que neste mosteiro não há fechaduras exteriores. Ou seja, as fechaduras ou as traves só fecham por dentro. Por isso, num mosteiro destes, nunca poderão sair todas as irmãs porque não conseguem nem fechar nem abrir o mosteiro. Na capela a mesma coisa. A porta de acesso ao exterior não tem fechadura. Nem interior nem exterior. Só umas traves que trancam as portas de modo horizontal, e umas alavancas que trancam na vertical. Tudo por dentro. Quem vem da rua pode entrar na igreja e se for um dia de luz e de sol pode apreciar os vitrais, simples, mas que dão uma beleza e uma luz especial à capela. Ainda do nosso lado não há imagens. Só os vitrais, o altar, um ambão e “meio sacrário” (digo meio porque a meio da grade de ferro de separação abre-se um quadrado, encimado por uma cruz, onde está colocado o sacrário que roda: nas missas voltado para o povo e nas celebrações corais voltado para as Irmãs). Encontra-mos, pois, no nosso lado, dois tipos de vitrais: uns em losango, de tons amarelados, com temas eucarísticos (de um lado uma seara de espigas e flores e do outro hóstias com raios e estrelas) e outros, na zona do altar, com santos dominicanos: São Domingos, Santa Catarina de Sena e Santa Rosa de Lima. Tem também uma grande cruz, voltada para o altar; do outro lado mais três santos dominicanos: São Tomás de Aquino, São Jacinto da Polónia e a Beata Imelda. Para lá da grade, no lado das irmãs, está o coro em madeira, onde rezam as horas canónicas, e também dois vitrais, em formato de losango, em tons de azul e verde, com a criação do céu e a criação da terra. Além dos vitrais estão duas imagens: de um lado Nossa Senhora a entregar o rosário a São Domingos e no outro uma imagem dos esponsais místicos de Santa Catarina de Sena. As irmãs comungam numa pequena abertura da grade, um pequeno quadrado que se chama comungatório (lugar da comunhão). A vida de oração das comunidades monásticas é grande e profunda. Ao contrário de muitos de nós que rezamos à pressa e quando não temos trabalho, aqui o trabalho é secundário. Os momentos de oração, assinalados pelo toque do sino, dizem às monjas que a sua missão é a de rezar pelo mundo, de levar o mundo a Deus. Assim, ao longo do dia, conforme a terra vai rodando, os vitrais vão luzindo e as orações subindo até Deus.

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