Discursos de Ano Novo

Não gosto de falar de política nem usar estes meios para dizer bem ou mal.
Mas não me consigo conter depois de ouvir os dois parágrafos do discurso do Presidente da República deste ano de 2012. No site da Presidência da República está o "sermão" do nosso Presidente, para ler ou ouvir. Ainda assim prefiro ler porque não consegui ouvir para além do segundo parágrafo. Quem vir a parte escrita repare em quantos parágrafos ele diz alguma coisa positiva. Eu vi e contei os parágrafos: 40. Destes 40 só o primeiro e os dois últimos se aproveitam de esperança e de bom ar. Os outros 37 são para falar do óbvio - a crise - e a tentar mentalizar-nos para o que nós já sabemos de cor e salteado mas que não temos a culpa, embora nos queiram fazer ver que sim. Com um pouco de lucidez se conclui que foram as más políticas e os maus governantes (e não tenhamos memória curta) que puseram o povo no buraco e não o povo que pôs os políticos e os maus governantes no dito. E vir-nos falar, no primeiro dia do ano, depois do jantar, da crise e do empenhamento de todos na construção do que outros destruíram? Que falta de gosto.
E também não acho piada - nunca achei - a que se venha dar recados ao povo quando os devia dar diretamente ao Primeiro-Ministro ou a quem de direito, com quem se encontra regularmente. O sermão de Santo António aos peixes, seja o original seja o do P. António Vieira tiveram êxito porque foram únicos. É como eu estar numa sala de aulas e um colega ter estragado o projetor e o professor vir passar um sermão a todos porque a turma partiu o projetor!
No meu humilde parecer, os verdadeiros destinatários do discurso do Sr. Presidente da República não eram o povo mas sim a claque governativa. A esses é que deve levar as preocupações que tem no coração e defender os desempregados e os idosos e as instituições de Solidariedade Social de que tanto fala. Ao deixar que o Governo tome as medidas que está a tomar, está a defender quem? O povo? Boas intenções, não duvido.
Mas, no meio do discurso, há um pequeno parágrafo que me agrada: "Agora temos de seguir um rumo diferente, temos de mudar de vida, e construir uma economia saudável". Só pergunto: e quem limpa o lixo de quem fez a festa? Quem junta as peças do boneco partido? Quem vai pagar o arranjo do tal projetor? Não precisamos de resposta. Digamos a uma só voz: o povo!
Em 1908 Manuel Laranjeira escrevia uma série de artigos sobre o Pessimismo Nacional. Num desses artigos - de uma grande lucidez - ele fala das "quadrilhas messiânicas" que apareciam para salvar o povo das suas crises e depressões. Não quero fazer associações mas reparem no que diz a determinado ponto: "As quadrilhas messiânicas bebem-lhe o sangue (ao povo) e vendem-lhe o pão por um preço fabuloso. E esse povo humilde, secularmente escravizado, entrepidamente, com uma heroicidade animal que só a ignorância dá, deixa-se sugar, deixa-se morrer de fome e, quando não se resigna a morrer de fome - emigra. A cifra da mortalidade pela tuberculose e a cifra da emigração estão aí dizendo com sinistra eloquência o carinho com que se educa o povo português".
Manuel Laranjeira dizia que a doença da nossa sociedade é de natureza parasitária... Que forte mas atual!
Teríamos, então, de desparasitar o povo! Mas não temos dinheiro... estamos em crise e sem subsídios.
(Já agora... repararam que a Assembleia da República não trabalhou entre o Natal e o dia de hoje? E ao povo põem-no a trabalhar meia hora mais por dia! Grande lata!)

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