Representação da Alma e do Corpo

Este post está com três dias de atraso. Só agora, neste começo da manhã, conseguir ter um tempinho para aqui vir deixar um pequeno comentário a um concerto a que "presidi", na passada sexta-feira em Marvila, a terra onde me criei.
Fui em representação do pároco. Este concerto marcava a efeméride de 412 anos. Na passada sexta-feira fazia 412 anos que esta "Raprresentatione di Anima e di Corpo" era estreada em Roma. A história desta Representação é sui generis. A origem está no Juízo Final da Capela Sistina, do grande Michelangelo. Diante desta obra, terminada em 1541, há um padre do Oratório de São Filipe de Neri, também recentemente fundado, Agostino Manni, que, de tão impressionado ao ver o Juízo Final decide fazer um libretto sobre estas realidades últimas do ser humano: o combate entre Corpo e Alma, pressionadas pelo Tempo e refletidas pelo Intelecto. São estes os personagens desta Representação que nos falam dos cuidados a ter com a sedução deste mundo e a aproveitarmos o tempo da vida para fazermos da terra o paraíso. Como dizia o Intelecto: "Esta vida é um vento que voa num momento". Foi Emílio de'Cavalieri que, ao ter contato com este texto decide musicá-lo ao estilo da época, o Renascimento no seu esplendor, para ser estreada no Carnaval de 1600.
Paralelamente, por estas alturas, enquanto em Roma se escutava esta Representação, começava em Lisboa, no sitio do Poço do Bispo, a construção de um mosteiro para acolher as monjas brígidas. 412 anos depois, na igreja daquele mosteiro, que tem como padroeiros Santo Agostinho e Santa Brígida, que viveram também estas tensões entre Mundo e Deus, Corpo e Alma, que se escutou de uma forma harmoniosa e bela, esta Representação da Alma e do Corpo.
Aqui deixo um vídeo com a parte final desta obra. A igreja é mesmo a de Marvila, uma pérola perdida na zona oriental de Lisboa.


 

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