Entre alegrias uma tristeza

1. Começaram as festas em Feirão. Começam a chegar não só os que vêm só para a festa mas também os que já vêm de férias. Ontem foi dia de arruada: um conjunto de bombos percorre as ruas da aldeia, parando em cada casa aberta, saudando as famílias. Em tempo de crise consegue-se fazer uma festa em honra de Santa Luzia de quatro dias. Em relação a estas festas mais populares que religiosas sinto um sentimento ambíguo: por um lado acho que não, que é exagerado, que uma coisa mais modesta só beneficiaria; mas, por outro lado, estas festas têm o dom de congregar. Os que cá vivem orgulham-se da festa, ou que cá vêm juntam-se à alegria. A mim, este ano, cabe-me o sermão em honra de Santa Luzia. Já o fiz duas vezes, esta será a terceira. Como o que importa é falar da vida da padroeira, parece-me repetitivo, porque a vida é sempre só uma.
2. Hoje foi dia da feira da Ouvida. A Ouvida fica a caminho de Castro Daire. Sempre a três de Agosto. É uma feira de gado, embora tenha sido contagiada por tudo o que uma feira possa conter desde roupa a utensílios de cozinha e doçaria. Na missa esteve pela primeira vez o Bispo de Lamego. A capela é pequena e, por isso, pelos megafones chegam-nos os ecos do que se passa lá dentro. Feira e Missa não são incompatíveis. Por isso, enquanto lá em cima decorre a Missa, visitei a feira (já tinha celebrado de manhã e voltarei a celebrar à tarde), demorando-me nos utensílios para o campo e para o gado.

3. O encanto pelos Diários. Gosto muito de ler Diários. Não pela coscuvilhice mas pelo que de mais íntimo e secreto se escreve. É óbvio que por mais íntimo que seja um Diário todos temos consciência que será sempre lido por alguém.
Este que acabei hoje de ler é de um padre muito conhecido pela sua espiritualidade: Henri Nouwen (não é o cardeal Newman). Foi-me oferecido por uma senhora “devota” deste autor. A capa nada diz que se trata de um diário: “A caminho de Daybreak”, uma viagem espiritual. Quem não estiver prevenido pode pensar que é um roteiro a caminho deste lugar. Mas é mais que isso. É um Diário espiritual deste homem, também ele espiritual, que durante um ano sabático, e também de mudança, vai deixando por escrito o que vai sentindo e como vai sentindo. Fala, então, da oração, da dificuldade do sim, da humildade e da confiança em Deus. Deixo apenas uma citação que me pode se útil para estas férias: «a diferença entre coisas importantes e urgentes. Se eu permitir que as coisas urgentes dominem o meu dia nunca chegarei a fazer o que é realmente importante e sentir-me-ei sempre insatisfeito».

4. Morreu-me um amigo. É uma palavra forte esta de ser amigo de alguém ou de alguém ser seu amigo. Grandes e longas discussões sobre a distinção entre amigos e conhecidos. Mas o António era meu amigo. Conheci-o há uns anos, através de uma outra pessoa. Conheci-o já doente mas não tão doente como agora estava. Foi, até ser internado, o sacristão da igreja do Convento. Visitei-o há um mês. Estivemos pouco tempo, prometi rezar por ele e ele disse-me que me chamaria quando precisasse de mim. Rezo por ele. Quando alguém sofre durante tantos anos por cauda da doença, a morte aparece como o fim do sofrimento. Nowen no seu Diário, a propósito da Ressurreição do Senhor escreveu: «Conforta-me imenso saber que as feridas de Jesus se mantêm visíveis no seu corpo ressuscitado. As nossas feridas não são retiradas, mas tornam-se fonte de esperança para outros». Pela minha parte continua a rejeição de que fomos criados para a decadência. Acredito que um corpo sofrido e chagado será sempre transfigurado pela luz e pela glória de Deus.

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