São Mateus e o apelo à conversão, alegria e missão

A Igreja celebra hoje a festa de São Mateus.
Nos Evangelhos, os relatos de chamamento dos Doze são todos feitos por grupos. Mas São Mateus não. Há este relato de chamamento que, curiosamente, aparece na sequência dos relatos das curas que Jesus vai fazendo.
E é o que se sabe deste Apóstolo. A tradição foi acrescentando outras coisas, como, depois de ter anunciado e ter escrito o Evangelho na Judeia e para cristãos vindos do judaísmo, foi pregar o Evangelho para a Etiópia onde foi martirizado.
Hoje, ao ler um resumo antigo da vida de São Mateus, o autor dizia que São Mateus, tão contente por ter sido chamado por Jesus, festejou esse chamamento com um banquete para o qual convidou muitos amigos.
E foram os dois episódios que escutámos no Evangelho.
Gostava, a partir deste evangelho fazer duas pequenas reflexões.
A primeira é a relação entre conversão e alegria. O voltar-se para Deus, é o que significa a palavra conversão, significa deixar para trás o passado, o que se viveu, para começar uma vida nova. Foi o que aconteceu com Mateus: Jesus chama-o e ele, deixando tudo, seguiu Jesus.
A conversão, que é feita de pequenas conversões, é este deixar-se levar por Jesus, obedecer à sua voz, seguir atrás dele, deixando a banca, deixando o estatuto, deixando o dinheiro.
À medida que vamos lendo os evangelhos, apercebemo-nos que esta relação entre conversão e alegria, muitas vezes celebrada numa refeição, é uma constante: “Eu não vim chamar os justos mas os pecadores”, “Há mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão”.
A nossa história não será como a de Mateus, com um momento decisivo de conversão que muda radicalmente a nossa vida, mas devemos perceber que faremos sempre parte do grupo dos pecadores. Não desesperados, mas confiados na misericórdia de Deus que nos devolve a alegria e nos faz sentar à sua mesa.
A segunda ideia diz respeito à missão de Jesus e à missão da Igreja. Diz-se da vida de são Domingos, que ele trazia sempre consigo o Evangelho de São Mateus, que quase o sabia de cor, e as epístolas de Paulo. Não seria só porque se acreditava naquela altura que o Evangelho de São Mateus tinha sido o primeiro a ser escrito. Também talvez pelo importante capítulo 10, em que Jesus fala aso seus discípulos do envio, das dificuldades da pregação e do acolhimento da sua boa nova e da recompensa de quem prega e de quem aceita o anúncio.
Jesus não exerce o seu ministério a partir da sua casa nem sequer do templo. Jesus é o pregador das cidades e das ruas. É um pregador itinerante. Vai ao encontro das pessoas. E os apóstolos também. A palavra apóstolo significa isso mesmo: enviado. Todos eles foram enviados a pregar a boa nova do reino. E esta é a missão da Igreja: o envio. Não podemos andar só na pastoral dos noventa e nove, daqueles que vêm à Igreja. Temos de voltar às origens, perceber o dinamismo de Jesus e do seu Evangelho, e sair ao encontro daqueles que se sentem excluídos, dos que a Igreja exclui e até daqueles que andam mais afastados, que não se sentem atraídos.
É, então, nossa missão, sermos alegres testemunhas de Jesus. São Francisco de Sales dizia que um santo triste é um triste santo. E, ainda que a nossa vida nos traga momentos de maior tristeza, devemos ultrapassá-los com a alegria da presença de Deus na nossa vida.
Peçamos então ao Senhor, que abra a nossa vida aos apelos à conversão. E que transformemos as nossas vidas: do desespero à esperança, da vergonha ao anúncio, da tristeza à alegria. Que assim seja.
(imagem: O chamamento de São Mateus, página de uma Bíblia do século IX)

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