Os inimigos da alma


Estava a escrever sobre os inimigos da alma, vim à internet ver coisas sobre o assunto e as mesma internet  informou-me que eu já tinha falado sobre eles em Setembro de 2010.
É uma questão que me preocupa esta, a da condenação do mundo, ou vê-lo como um "inimigo da alma". Não sou inocente. Sei que, se não somos firmes, as "seduções do mundo" colocam-nos numa espiral de consumismo, relativismo e indiferença que só nos afundam e afastam de Deus. Mas, as seduções do mundo, agora sem aspas, não são o mundo. E gosto de fazer sempre a diferença entre o mundo, criado por Deus, belo e harmonioso, e as estruturas que o ser humano arranjou, umas muito boas e outras que nem tanto. O exagero leva à degeneração e lá entramos nós nesta espiral...
Ainda assim não vejo o mundo com maus olhos. Não fujo dele nem faço duelos. O mundo será sempre, para o cristão, um desafio, um confronto, o lugar onde mostramos realmente a força que nos ajuda a viver. Não nos disse Jesus que estamos no mundo mas não somos do mundo?
Hoje a Igreja celebra a festa de São Vicente. Em Lisboa é solenidade. Estes primeiros mártires foram vítimas das estruturas de um mundo onde se pensava que uma mensagem, a de Jesus, não tinha cabimento. Por isso matavam-se os de Cristo para ver se, assim, resolviam a questão pela raiz. Cá está: o exagero leva à degeneração.
Santo Agostinho fez um sermão sobre o martírio de São Vicente. Escutámo-lo esta manhã, na oração de Laudes. Prendeu-me uma passagem que acho tão actual, não pela força que o mundo tem mas, ao contrário, pela força que o cristão tem quando sente Cristo na sua vida. Aqui a transcrevo como partilha, convidando ao mesmo tempo a olhar o mundo com os olhos de Deus: se Deus não amasse tanto o mundo tinha-nos criado e enviado o seu Filho?
"Como nos admiraremos então, caríssimos, que Vicente tenha vencido n’Aquele que venceu o mundo? Neste mundo haveis de sofrer, diz o Senhor: o mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo: lisonjeia-os para os enganar, aterroriza-os para os quebrar. Não nos preocupe o nosso bem-estar, não nos assuste a crueldade alheia, e vencido está o mundo".
(imagem: Antonio del Pollaiuolo, São Vicente, 1468)

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