Um filho pródigo

Reler a parábola do filho pródigo traz sempre novidades, releituras e actualizações. Das parábolas mais bem pensadas, contadas, e com um final feliz. Que alegria maior para um filho libertino que ser perdoado e acolhido pelo pai? Que alegria maior para um pai que ver o seu filho perdido de volta a casa?
Mas nem todas as histórias acabam bem. Quando pensamos numa parábola ou inventamos uma história damos-lhe o final que queremos, feliz ou infeliz. A vida não é assim. É uma aflição quando julgamos que uma história está a ter um final feliz mas, o autor da história, contraria o seu final para um final feliz adiado, como se o narrador quisesse escrever de uma maneira e a caneta ou as teclas do computador o forçassem a escrever de outra. Um final que vai contra a esperança e o investimento que o narrador lhe colocou e que deixa tudo em aberto ou suspenso. Uma história mal contada ou sem final, que termina com reticências, à espera de um final feliz.
Mas as atitudes da parábola mantêm-se em vigor. Às vezes é mesmo preciso passar fome, ir guardar porcos, descer ao mais profundo do desespero para pensar na vida e voltar à casa do pai.
E o pobre pai não tem muitas alternativas: cheio de esperança, ir todos os dias ao terraço da casa, espreitar a ver se vê sombra do filho, até ao dia em que vendo-o, vá ao seu encontro, o abrace, e lhe dê uma nova chance. Mas não desistir. O seu filho pode regressar. Aos dois a vida dá o mesmo ensinamento: mesmo que a vida seja feita de tragédias não está condenada a ser uma tragédia.
(imagem: Pierre Chavannes, o filho pródigo, 1872)

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