Doze dias premonitórios

Dizem que o tempo dos últimos doze dias do ano são premonitórios para o resto do ano: dia 20 mês de Janeiro, dia 21 mês de Fevereiro, e por aí fora.
Mal comparado, estes doze últimos dias têm sido também eles premonitórios. Entre o que tenho de abandonar e o que tenho de assumir, papéis para um lado e caixas para outro, livros emprestados que se acumulam à espera de tempo para serem lidos, adaptações e outras coisas, prevêem bem o que aí vem. Não se assuste o leitor que os meus movimentos serão mais internos que externos. Lisboa continuará a ser o meu areópago embora outras diásporas também farão parte da minha vida.
Este intróito é só para explicar a ausência no blogue nos últimos dias.
Mas ontem á noite, entre o serão e o sono, li de uma assentada  um pequeno livro que me ofereceram. Chama-se Óscar e a Senhora-Cor-de-Rosa. É a história de um menino de dez anos que tem um cancro e restam-lhe doze dias de vida (daqui os doze dias premonitórios) que os vai aproveirar para escrever cartas a Deus. Não é um livro que nos faça chorar, nem as cartas são tratados teológicos. Mas faz bem a leitura e, como digo, num par de horas lê-se o livro. Mas o à vontade do Óscar com Deus, apesar de se perceber que é um adulto quem escreve o livro, tem até o seu quê de beleza e simplicidade. Realço só duas pequenas passagens do livro para ilustrar. O Óscar sabe que vai morrer. o médico visita-o com ar derrotado. Há uma "Vovó" que é voluntária e será quem o vai acompanhar nos últimos doze dias. Quando o Óscar diz á vovó que vai morrer, a Vovó não esconde. E, falando sobre a vida e a morte, a Vovó diz a Óscar: "Tens razão, Óscar. E penso que se comete o mesmo erro em relação à vida. Esquecemo-nos de que a vida é frágil, efémera. Andamos todos a fingir que somos imortais". Mais á frente, a Vovó sugere a Óscar que fale com Deus. Óscar não conhece Deus. Não conhece nem acredita. Diz que é a mesma coisa que o Pai Natal. Mas a Vovó lá consegue que ele escreva. E a Vovó diz que, em cada dia, ele pode pedir uma coisa a Deus. Óscar pensa logo em brinquedos, guloseimas, ect. ect. E a Vovó diz-lhe: "Não, Óscar. Deus não é o Pai Natal. Só lhe podes pedir coisas do espírito".
É só uma amostra. O livro não está cheio de pensamentos filosóficos mas ensina. Para mim fica já anotada a ideia para uma homilia de Natal: Deus não é o Pai Natal. A Deus só lhe podemos pedir coisas do espírito.
(imagem: mês de Dezembro de um calendário medieval)

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