As contas do meu rosário

Celebra hoje a Igreja, e nós, dominicanos em especial, a festa de Nossa Senhora do Rosário. Especial porque a Ordem Dominicana é mariana. Desde o seu início que a Ordem foi mostrando e passando de geração em geração este carinho que cada dominicano deve ter por Nossa Senhora. Ao longo destes oitocentos anos cada dominicano reconhece esta presença maternal de Maria, de tal maneira que ela é até chamada de "Mãe dos Pregadores". Mas a festa de hoje realça um dos aspectos da pregação dominicana: o rosário. A tradição atribui a "invenção" do rosário ao próprio São Domingos, numa aparição que Nossa Senhora lhe fez, entregando-lhe o rosário - a Bíblia dos pobres - como também ficou conhecido. Cento e cinquenta avé-Marias, o mesmo número dos salmos, em que, por Maria se meditam nos mistérios de Cristo. E nas contas do rosário meditamos também nas nossas contas, o mesmo é dizer, meditamos na nossa vida. As nossas alegrias e preocupações, luzes e sombras, intenções e meditações são também desfiadas nas contas do nosso rosário, numa repetitiva mas não cansativa oração de entrega e abandono. Se bem que historicamente a atribuição do rosário a São Domingos seja muito pouco provável, a verdade é que nós, dominicanos, fizemos desta oração popular a nossa oração e um meio de pregação. A começar pela Avé-Maria que os frades,mesmo antes de haver terço já as repetiam vezes sem fim. Santo Alberto Magno, santo do século XIII escreveu que alguns frades louvavam a Maria com a saudação do Anjo mil vezes, outros cem, outros numerosas vezes e outros ainda quase continuamente. Mas o Rosário foi sendo divulgado e pregado ao longo dos séculos como devoção e prova de gratidão para com Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.
Deixo, a este propósito, uma oração composta por um Mestre da Ordem recentemente beatificado, o Beato Jacinto Cormier, para ser rezada antes de começar o Rosário (terço):

Imaculada Virgem Maria, fazei que a recitação do Vosso Rosário seja para mim cada dia, no meio das minhas múltiplas ocupações, um laço de unidade nos meus actos, um tributo de piedade filial, uma doce recreação, um auxílio para caminhar alegremente nas sendas do dever.
Fazei, sobretudo, ó Virgem Maria, que a contemplação dos Vossos Mistérios, forme, a pouco e pouco, na minha alma uma atmosfera pura, luminosa, fortificante e embalsamada, que penetre na minha inteligência, vontade, coração, memória, imaginação e todo o meu ser. Que eu possa deste modo contrair o hábito de rezar trabalhando, sem o auxílio de fórmulas, mas por meio de olhares interiores de admiração e súplica e com aspirações amorosas.
Isto Vos peço, ó Rainha do Santíssimo Rosário por intermédio de São Domingos, Vosso filho predilecto. Ámen.

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