Apresentação do livro - o que disse

Foi hoje apresentado, como um filho que acaba de nascer, o meu primeiro livro de homilias. Deixo aqui o que mais ou menos disse, para partilhar com quem gostaria de ter estado mas não pôde:

Antes de mais gostava de agradecer a vossa presença, neste dia em que a Igreja celebra tão grande santo – São Martinho – um grande exemplo do amor a Deus e amor ao próximo. São Martinho ensina-nos que os pequenos gestos de amor como partilhar a sua capa com um pobre são construção do Reino de Deus.
Este livro que estamos a apresentar – e agradeço desde já à Barbara as três paciências que teve para comigo: ouvir as homilias, ler o livro e fazer esta apresentação – dizia, este livro começa com uma apresentação que faço sobre a importância da pregação na Ordem dos Pregadores e, obviamente, na minha vida e no meu ministério de dominicano e de padre. Não vou aqui repetir o que lá está mas tenho de aqui dizer alguma coisa mais sobre o livro e como a homilia pode ainda ser útil depois de ser pregada.
Tenho no meu quarto alguns livros de homilias. Um volume do P. João Resina, que me ajudou muito nos primeiros anos de padre e vários do fr. José Augusto Mourão, frade dominicano que pertenceu a este convento e morreu há três anos. Homem ligado à Semiótica e que preparava as homilias, quase todas escritas, escreveu um artigo sobre a homilia, que partilhou comigo. No final desse artigo concluía ele assim: “A questão da homilia resume-se, a meu ver, neste ponto: é preciso tornar actuais e próximas as palavras longínquas e usadas. O pregador é um mediador, não um intermediário. Não uma máscara, mas um sujeito presente ao acto da sua enunciação. Ora, a enunciação é uma inscrição do corpo. O pregador não é um manequim que “veste” as roupas que um outro lhe (im)põe e que ignora o movimento, mas um passante que, falando, expõe aquilo que profundamente é: um ser desejo habitado pela palavra. É um entre os outros”.
Na minha vida de padre, sobretudo quando tenho de fazer homilias, tento sempre sentir-me um entre os outros. Uma homilia, que não é uma catequese nem uma exposição da doutrina, mas sim uma partilha, uma actualização das palavras longínquas e usadas. Reconheço que fico contente quando alguém vem ter comigo e me diz que gosta das minhas homilias porque se identificam e porque vão ao concreto da vida. Para mim é importante este eco e peço a Deus que me conserve esta proximidade com o Evangelho e com as pessoas com quem partilho a fé.
Este livro de homilias nasceu de um pedido concreto de uma pessoa amiga que, numa conversa, me convencia que era importante haver uma base escrita. Não para imortalizar mas para ajudar na caminhada cristã e a aproximar outros que andam mais afastados do Evangelho e da Igreja. E este é o meu verdadeiro motivo da edição destes livros de homilias: pode ser útil na caminhada cristã e pode aproximar mais pessoas ao Evangelho e à Igreja. Entendo-o como mais uma forma de pregação. Para isso são precisos dois imperativos, que dão o título a este livro, que é uma citação do Evangelho de Marcos: Conversão e fé: arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Como seria possível o vinho novo do Evangelho ser depositado em odres velhos? Como é possível alguém pensar que pode transformar a sua vida, tornando-a mais de Cristo, se não acredita na força da Palavra de Cristo, Palavra que cria e recria, palavra que transforma e renova a nossa existência?
Esta primeira pregação de Jesus: arrependei-vos e acreditai no Evangelho, há-de ser a primeira pregação escutada pelo pregador para que ele também possa, com coerência, pregar a conversão e a fé.
Estas homilias foram quase todas pregadas aqui, nesta igreja. Como sabem, esta igreja tem nove anos, e eu sou padre há dez. Foi em função dos meus irmãos na fé que as homilias foram preparadas, não para agradar aos ouvintes mas para os levar a gestos e atitudes concretas, evangélicas, nos mundos por onde nos movemos.
Por isso, para vós, o meu agradecimento não só por estarem aqui hoje mas porque, aqui, caminhamos como comunidade, como irmãos, não segundo as ideias de cada um ou das minhas, mas segundo o Evangelho. É bom beber da fonte fresca do Evangelho.
Uma dessas pessoas que, nos últimos anos, tem caminhando comigo e convosco, é a Bárbara, a quem pedi que fizesse a apresentação e que tão amigavelmente aceitou. Estamos envolvidos em vários projectos, e todos eles se fundam na procura da verdade e nos desafios que o Evangelho nos pede.
Agradeço também aos que, comigo, tiveram a disponibilidade de me ajudar na selecção e organização das homilias e deste dia. Muito vos agradeço.
Agradeço também à Princípia Editora, e em especial ao Henrique, ter aceitado editar estes livros de homilias.
Um outro agradecimento ao P. Vitor Feytor Pinto que tão generosamente aceitou fazer o prefácio deste livro. Apesar da minha pouca colaboração no Campo Grande, sempre me senti em casa e apoiado por ele.
Hão-de reparar que, na primeira página, a editora e eu fazemos um agradecimento explícito à Paula Caetano, uma amiga. Ambos temos um amigo comum: Jesus Cristo, uma obra-comum: a Ajuda de Berço e uma missão comum: anunciar por palavras e obras o Evangelho da alegria, do amor e da paz. Que Deus, que tudo vê no segredo lhe dê a recompensa.
Deixo para o fim um agradecimento aos meus irmãos dominicanos. Há nove anos atrás confiavam-me esta igreja para fazer dela uma comunidade. Agradeço, em especial, aos meus confrades, que sempre me apoiaram e confiaram em mim.
E termino, como não poderia deixar de ser, chamando aqui um amigo meu, dos mais pequenos, o Santiago, que gosta muito de vir à Missa e está sempre muito atento às homilias.
Mesmo mesmo para acabar leio-vos uma passagem do Evangelho de Mateus: Naquele momento, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: «Quem é o maior no Reino do Céu?» Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: «Em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu. Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe.»

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