Associação João13 - Já é oficial

Foi hoje o dia da assinatura da Escritura da Associação João13. Alguns dos Fundadores fomos às assinaturas mas, mais importante que a oficialização foi a Eucaristia que celebrámos na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Carreira, que nos acolheu e acolherá no futuro.
Deixo aqui a homilia que escrevi para este dia:


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
(Fernando Pessoa)

Queridos amigos,
Quis Deus que fosse hoje o dia da assinatura da escritura da nossa Associação.
Um princípio que tem orientado a minha vida é de me perguntar o que é que Deus quer de mim e o que é que os acontecimentos da minha vida me querem também dizer.
E assim vamos vivendo. Procurando saber o que é que Deus quer e nós sonhando, as coisas acabam por acontecer.
E não tenho dúvidas que o que hoje aqui nasce é porque Deus quer. Nós sonhámos ou acertámos com o querer de Deus.
E porque é este dia e não o de ontem ou de amanhã? Só Deus sabe. Quando soube do dia a primeira coisa que fiz foi ir ao calendário ver duas coisas: que santo e leituras calhavam neste dia.
E são estas duas coisas que queria partilhar hoje convosco.
A Igreja faz hoje memória de São Bernardino de Sena. Um santo franciscano, como franciscano foi este hospício com esta capela onde estamos. Juntamente com os dominicanos fazem parte das ordens mendicantes, ou seja, que não vivem das rendas ou benefícios mas sim do seu trabalho. O radicalismo de São Francisco e de São Domingos voltou a aproximar os que estavam na heresia, por criticarem uma Igreja instalada, rica e poderosa. Estes dois santos, e de certa maneira, São Bernardino de Sena, pelas pregações e modos de vida, ajudaram no reflorescimento da Igreja. Voltou a pobreza, voltou a lei do Evangelho, voltou a alegria de se entregarem aos mais pobres e desvalidos. São Bernardino foi um grande pregador do Santo Nome de Jesus, uma devoção medieval e que prolongou depois pelo Renascimento. E ficou conhecido por isso. Mas, há um episódio das vida dele que merece ser aqui lembrado pela ligação a esta nossa celebração: Bernardino ficou sem os pais muito cedo. Foi uma tia que cuidou dele. Quanto tinha perto de 20 anos, já a pensar em seguir as pegadas de São Francisco, viu um pobre a bater à porta de casa e a tia despachou-se sem lhe dar esmola. Bernardino disse à tia: “Não o mande embora sem lhe dar alguma coisa, por amor de Deus. Se não tiver nada para lhe dar dê-lhe o meu jantar, mas não deixe este pobre passar fome”.
Pregação e exemplo, ou então, o exemplo, o testemunho, é a melhor pregação.
Mas, dizia no início, marca este dia as leituras que a Igreja nos propõe para a nossa celebração. São dois discursos de despedida: o de Paulo, a comunidade de Éfeso e o de Jesus, a oração sacerdotal, que deriva do lava-pés, que dá nome e sentido à nossa Associação.
Que nos diz São Paulo? Que a nossa vida deve estar unida a Deus e enraizada na sua Palavra e que devemos acudir os mais fracos.
E São Paulo lembra uma frase de Jesus, que não vem nos Evangelhos: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber”.
Meus queridos amigos, esta frase há-de orientar esta Associação e todo o bem que nela se fizer. E garanto-vos que todos a iremos experimentar quando uma pessoa sem-abrigo vier ter connosco e sermos testemunhas oculares das transformações que se vão operar. Serão coisas simples e básicas da dignidade humana: o acolhimento, o banho, a mudança de roupa e a refeição. Tudo o que nós fazemos quotidianamente e que estas pessoas, por não terem casa nem acessos estão privadas de o fazer. E sentiremos alegria, felicidade, como o pai da parábola do filho pródigo; sentiremos alegria, felicidade, porque nos colocámos ao serviço de quem não nos pode retribuir a não ser, talvez, um sorriso, um “obrigado” ou um “Deus lhe pague”. Iremos sentir alegria e felicidade porque cumprimos o Evangelho naquilo que o Senhor nos diz e confonta: “era sem-abrigo e cuidaste de mim”.
E o Evangelho que escutámos, vemos Jesus a rezar a Deus por nós. Que Deus nos guarde, que sejamos unidos, que Deus nos livre do mal, que nos consagre na verdade.
Jesus, pouco antes da sua prisão e paixão não pede por ele mas sim pelos seus amigos.
A Associação João 13 não pode esquecer a dimensão da oração. Esta capela que hoje nos reúne, será o lugar das nossas orações, com os pobres e pelos pobres, com os que constantemente são injustiçados e pelos que promovem a justiça, com os que andam tristes e pelos que têm neste mundo a missão de consolar e dar esperança, com os que sofrem violência e pelos que promovem a paz. A nossa oração será solidária, atenta às necessidades do mundo, porque vivemos neste mundo.
Que Deus leve a bom porto esta nossa Associação e o nosso propósito de sermos presença de Jesus e da Igreja junto dos descartáveis. Que a alegria que sentimos em estarmos ao serviço dos pobres seja contagiante para que sigamos o projecto de Jesus que quer a vida e a dignidade de todos. Que este caminho que hoje iniciamos nos ajude no caminho de santidade que todos devemos percorrer.

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