D. Francisco Rendeiro

Os dominicanos portugueses lembram hoje D. fr. Francisco Rendeiro, nos cem anos de nascimento. Foi frade dominicano, de grande relevo, e depois bispo do Algarve e de Coimbra, onde veio a falecer. Já serão poucos os que dele se lembram, mas todos dizem ser um homem alegre, simples e afável. A falta de tempo  não me deixou fazer uma pesquisa tão detalhada e merecida mas, ainda assim, quero deixar aqui transcrita a primeira página de um livro de Crónicas, que ele começou, em Aldeia Nova, que foi um Seminário menor que tivemos nos idos anos 40... Encontrei este livro há poucos meses para um filme que se está a produzir sobre este lugar do Olival, o Seminário de Aldeia Nova.
Aqui a deixo, imaginando a noite daquele dia 6 de Junho, data da primeira página, em que, provavelmente à noite, no silêncio da casa, escreveu estas linhas:
"Há muito tempo que desejava dar início a esta Crónica. O livro está preparado  talvez há dois ou três anos, mas a falta de tempo tem impedido fazê-lo.
Começo hoje, dia seis de Junho de 1947, às 22 horas e 45 minutos, quando devia estar já a descansar. Naturalmente será sempre a esta hora que irei escrevendo um pouco cada dia. Não é por virtude que assim me privo do meu descanso; é porque não tenho outra hora livre durante o dia e reconheço a grande vantagem de deixar para os vindouros estas páginas que poderão ajudá-los a escrever um dia s História da Restauração Dominicana em Portugal.
Quem escreve estas linhas é o primeiro Director do Seminário Dominicano desde a sua reabertura em Aldeia Nova. Por isso, os factos são quase todos vividos pessoalmente. Tem isto prós e contras, como facilmente se depreende. Pode escrever-se com mais ou menos pormenores, mas não conseguirá totalmente evitar-se aquela paixão que prejudica um pouco a visão do historiador. Este inconveniente seria de molde a impedir-me de escrever. Mas reflectindo, escreverei, porque me lembro de duas coisas: primeiro, esta crónica não é História, mas tão somente um pouco de material com que outros escreverão a história; esses procurem corrigir a parcialidade que encontrem; segundo, é que me esforçarei por ser objectivo na apreciação dos factos. Se houver de fazer alguma referência menos agradável de alguém, procurarei documentá-la o melhor possível e ser imparcial tanto quanto possível.
Peço desculpa a quem me ler de todos os defeitos que encontrar, que não serão poucos. Lembre-se de que escrevo já tarde e é a correr da pena. Leitor benévolo que me leres depois da minha morte, lembra-te da minha alma com uma pequena prece.
Que a Virgem Santíssima e Nosso Pai S. Domingos me alcancem a graça de escrever conforme a verdade, essa verdade que é a divisa da nossa Ordem, e de escrever só para glória de Deus."

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