Melhor solidão que isolamento

Normalmente, para mim, a Quaresma começa antes da meia-noite de quarta-feira de cinzas. Antes de me deitar preparo as coisas próprias para este tempo: novo número da Liturgia das Horas, costuma escrever a carta da Quaresma, que espero amanhã poder publicar, escolher um livro espiritual para ter na cabeceira para ser a leitura da Quaresma. Para este ano, sem perder grande tempo em escolhas, retirei da estante de literatura as cartas espirituais do Frei António das Chagas. A edição é da Livraria Sá da Costa, em que o livro ainda vem fechado. Dá-me grande alegria saber que vou abrir a sério um livro e serei o primeiro leitor. Este, que comprei num alfarrabista ou mesmo na Livraria Sá da Bandeira, não me lembro, ainda vem fechado. Abri as primeiras páginas e encontrei uma passagem sobre a solidão, que aqui transcrevo, para que se perceba a diferença entre solidão e isolamento. O isolamento é sempre mau, a solidão é sempre boa, se nos sentimos habitados por Deus. Aqui fica, em jeito de pré-quaresma o parágrafo que me faz entrar na quaresma da misericórdia:
"E solidão de espírito nenhuma outra coisa é que viver só com Deus. porque, assim como a solidão é uma cousa tão só que nela não vive ninguém, assim a solidão do espírito é tão solitária e só, que não acha nela mais que Deus; e fica a alma feita um deserto, os sentidos um ermo, onde Deus, como acha sozinha a sua criatura, vem logo falar-lhe ao coração; e em ardentes suspiros e abrasados desejos de se unir com Deus, que é o seu princípio, donde saiu, a fonte donde nasceu, a origem donde manou e o centro onde finalmente aquieta, quando nele se recolhe e se mete e se entra de todo, para, depois de estar metida nele, se estender pela imensidade daquele ser infinito, para se alargar naquele pego de amor, para arder naquele mar de luz, para se derramar e transformar de todo naquele sumo bem, sobre-infinito, sobre-admirável e sobre-eterno."

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