Frei Francolino Gonçalves - um irmão

Estou em Caleruega com os noviços a visitar os lugares dominicanos. O tempo é pouco e, consequentemente, os acessos à internet limitados. Mas recebi ontem, manhã cedo, a notícia da morte do frei Francolino Gonçalves, dominicano e biblista.
Dos frades mais velhos era o único a quem tratava por tu. E isso mostra a simplicidade e proximidade nas relações fraternas. A primeira vez que estive com ele foi numa ida a pé à universidade católica, talvez pelo ano 1998, era eu postulante, ceio. E foi a primeira vez que, destemido, fiz as minhas perguntas "escondidas" sobre a Bíblia. E ele, com simplicidade, - nem todas as perguntas seriam adequadas a um grande exegeta - foi respondendo. É assim foi até ao fim quando vinha a Portugal. Eu ou outro irmão íamos fazendo perguntas que ele respondia e acrescentava com outros contornos mas sempre com muita simplicidade.
Falávamos da terra. De forma apaixonada, dos seus montes e das suas histórias, da inquietude em ir para a terra, do dizer-me que tinha passado na minha terra... Neste último ano, já em exames vários, a ansiedade em ir para a terra era mais notória, embora a dominasse pelo dever de cuidar da saúde. E aqui tenho que escrever que uma das maneiras que víamos como ele amava a vida era pela sua regra de vida em vários aspectos desde as moderadas refeições, o seu gosto pelo caldo ou sopa (muitas vezes dizia: disto não há em Jerusalém!), das suas caminhadas apressadas depois do jantar...
Falávamos da vida da província. Fomos a um capítulo provincial e isso permitiu que falássemos dos problemas vários, como as vocações, o convento de Lisboa... Quando me via fazia as suas perguntas sobre o estado da comunidade. Sempre me animou nas minhas tarefas, algumas vezes encolhendo os ombros como quem diz: se não fores tu a fazer ninguém faz. E para mim era um alento.
Falávamos da liturgia, ou melhor, celebrávamos muitas vezes a liturgia em comum. Nunca falhava aos actos comunitários, e na quaresma era já uma tradição celebrarmos juntos o domingo de ramos. Só depois ia para a terra. No último domingo de ramos enviei-lhe um Mail a dizer que o tinha muito presente, ao qual agradeceu. Por isso não me estranha que a sua última vontade tenha sido, mesmo antes da morte, pedir aos irmãos que rezassem juntos o Pai-nosso. Um sinal humilde e eloquente de fraternidade. 
Sem computador não consigo ir buscar uma fotografia, como gostava, mas vai uma destes dias, que me fez lembrar a terra. A minha e a dele.

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