A ponte de Reconcos

Feirão está a acabar. Começam os dias mais outonais, com trovoada, frio, chuva e nevoeiro. Em Lisboa estaríamos num rigoroso Inverno!
Nestes dias, apesar de poucos (para mim, Feirão sabe sempre a pouco), vieram as histórias e as memórias, o conforto da família que não se consegue ao longo do ano, com mãe, irmão, cunhada e sobrinhas.
Uma das coisas de que se falou nas histórias do serão, tentando contrariar a televisão foi da ponte de Reconcos, onde passei esta manhã, a caminho de Lamego.
A ponte de Reconcos era a penúltima etapa de quem vinha da cidade. De Lamego trazia-se muitas coisas, para manter e para cultivar. Chegar à ponte de Reconcos era o suspiro de chegar a casa. Fazia-se a pausa para tirar as coisas que se traziam às costas ou à cabeça. Parava-se para rir, descontrair mas, sobretudo pegar no molho e dizer: vamos lá que breve chegamos a casa.
Depois de passar a ponte de Reconcos entrava-se na serra das Meadas, deixava-se Fazamões para a direita e as pessoas lá iram para Feirão, via Pretarouca e Dornas. A última etapa era de escolha: uns podiam ir ainda à Barraca, porque havia lá a taberna e outros, se queriam chegar depressa a casa, metiam-se por atalhos no Penedo Gordo e descansavam numa pedra, que ainda hoje lá está e todos as reconhecem e dizem que ainda tem o feitio das costas, onde se deitava o molho.
Passei hoje na Ponte de Reconcos. Lembrei-me de histórias, lembrei-me de pessoas, lembrei-me do sofrimento de tanta gente que carregava tudo às costas e que em Reconcos recobrava a alegria de regressar a casa. E eu regresso a Lisboa, mas não pela ponte de Reconcos.

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