Os bons não morrem

Morreu mais uma pessoa boa. Esta pessoa, que eu hoje quero lembrar é D. Manuel Martins, primeiro bispo da diocese de Setúbal.
Na minha vida cruzei-me duas com ele, em momentos circunstanciais, o que não deu para ele se lembrar de mim mas de eu me lembrar dele.
Como Bispo de Setúbal foi duplamente incompreendido: de uma parte algumas correntes políticas que o apelidaram de "bispo vermelho", e também pela própria Igreja, a hierárquica, que achava que ele defendia demasiado os pobres e os trabalhadores, naqueles tempos quentes e problemáticos da outra margem. Mas o tempo, que tudo cura e reabilita, fez deste homem uma voz libertadora e ousada, sem medo dos "castigos" e represálias que pudessem vir contra ele. Como crente, como bispo, não ficou nas teorias do púlpito ou da Cátedra, não se limitou a dizer que era preciso ajudar os pobres e marginalizados, os desempregados e explorados. D. Manuel dizia e fazia. Era exemplo e dava exemplo. E assim conquistou não só o carinho da Igreja de Setúbal mas também de outras dioceses e instituições sociais.
Mas, se é próprio da condição humana entregar o corpo à terra e abandonar este mundo, também não é menos verdade que as pessoas boas não morrem. As más ficam na história pelas guerras e repressões que provocaram e fizeram... as boas ficam na nossa memória e, sempre que nos lembramos delas para fazer o bem, tornamo-las vivas e presentes.
Há um ano comprei um livro de textos do D. Manuel. Chama-se "pregões de esperança".
E deixo aqui um texto, que é uma oração a Deus que ele escreveu, em tom de acção de graças, pelo que Deus fez nele e por ele. A oração chama-se "Obrigado, Senhor". Eu rezo hoje: Obrigado, Senhor, por nos teres dado esta boa pessoa, que tu escolheste para o ministério na Igreja, que foi tua presença e testemunha junto dos mais fragilizados".
E agora deixo o texto dele:

Às vezes, dou comigo a pensar nos dons que o Senhor me vem concedendo durante a vida. E logo rebenta do meu interior um valente obrigado.

Sim, obrigado, Senhor:

Pela vida, pela fé;
Pela família, pela terra onde nasci, pelos imensos e bons amigos que fui encontrando;
Pelo continente de que faço parte, carregado de bela história; pelo País tão cheio de rico passado, de belos testemunhos de solidariedade, carregados de aventuras que assombram o mundo, sempre fiel à Igreja, a Maria, às suas raízes cristãs.

Sim, obrigado, Senhor:
Pelas possibilidades de cultura e de crescimento espiritual que me concedeste;
Pelos seminários que abristes, pelos mestres que me destes; pelos companheiros que me ajudaram.


Sim, obrigado, Senhor:
Por me teres chamado, consagrado e enviado;
Pelos trabalhos que me confiastes: seminário (!), paróquia de Cedofeita (!), diocese de Setúbal (!);
Pelas respostas às propostas pastorais, pelos santos com que me fizestes cruzar, pelas maravilhas que realizastes, através das minhas mãos pecadoras.

Sim, obrigado, Senhor:
Pela saúde que me tendes concedido para (bem) realizar as missões que, ao longo dos tempos, me fostes atribuindo;
Pelos colaboradores irmãos, amigos e fiéis que sempre encontrei nos meus mais diferentes caminhos. Graças a eles e à vossa ajuda, tudo foi possível. As falhas, quando as houve, eram da minha responsabilidade, mas, quantas vezes, até delas tirei proveito;
Pelos superiores que me foram responsabilizando e orientando. A amizade, a competência e a obediência deram-se sempre muito bem;
Até e também, porque me vendo sem eira nem beira, me abristes várias e agradáveis portas, tendo eu que escolher uma, que me proporcionou um espaço feliz que eu não merecia.

Sim, é verdade: Sempre e por tudo e por tanto, MUITO OBRIGADO, Senhor.

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